quarta-feira, 8 de junho de 2011

                                                               FLASH


    Era um dia em que as nuvens passeavam pelo céu como um bando de aves de arribaçã, ávidas por novidades, com pressa de chegar. Por onde passavam não deixavam rastros, apenas descortinavam um pano de fundo azul-acetinado, lavado pela chuva do dia anterior.
    A manhã desabrochava como flor: o vai-e-vem frenético dos automóveis, buzinas descontentes, a pressa das pessoas ao encontro dos seus destinos, ruas e avenidas recém-acordadas fervilhavando, num falatório só, tamborilavam em dó maior. Rostos amarrotados pelo acariciar do sono (ou da insônia, quem sabe?), denunciavam preguiça, cansaço, momentos de poesia ou necessidade de deixar a noite com um tamanho maior. O sol sorria e exibido mostrava seu crachá; normalmente trabalhava depois da madrugada. De plantão, prometia cumprir a tarefa milenar de "quase" todos os dias, com mais disposição, afinal havia tirado folga no dia anterior.
    Fechei meus olhos e emendei uma oração em agradecimento a Deus. Eu acordara feliz pois o sono revitalizante com o qual fui presenteada me acenava o cumprimento de promessas sempre esperadas. Era mais uma oportunidade de cumprir minha missão, rever posturas e conceitos, reparar falhas, realizar sonhos. Enfim, refazer-me e cumprir direitinho os deveres que eu trouxe para realizar no mundo.
    Com o propósito de desviar meus olhos de coisas que eu gostaria de esquecer, percorri todas as ruas e avenidas do meu ser removendo escombros, restaurando construções, destruindo o lixo, quebrando pedras e plantando flores. Tudo orientado pelo desejo de ser feliz e de fazer um mundo melhor.

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