terça-feira, 14 de junho de 2011


                                     



      
                                                      RENOVAÇÃO


        Joguei no lixo pedaços de um falso amor embrulhados em papel da mentira. Estava desbotado, com cheiro de mofo e em desuso, enchendo armários e atravancando gavetas. Joguei tudo, com ímpeto, com raiva, por ter me prendido por tanto tempo a algo imprestável; nem sei como isso aconteceu, só sei de verdade que, assim, prolonguei um sofrimento desnecessário que pouca coisa acrescentou. Perdi tempo e alegria.
        Aproveitei o momento e fiz uma faxina geral. Escancarei portas e janelas da alma, deixei que o vento da renovação entrasse e me ajudasse a desfazer toda a sujeira acumulada. De início, varri ,com disposição, as desilusões. Corajosamente, espanei os medos, não deixei ficar sequer o menor vestígio. Com um pano úmido de lágrimas choradas esfreguei com força todo o desprezo, até vê-lo sumir por completo. As angústias dos momentos de abandono e de incerteza decidi queimar: as cinzas joguei ao vento, encarregando-o de sepultá-las num lugar desconhecido e distante. As tristezas e os ressentimentos acomodei em sacolas biodegradáveis, dei um nó bem apertado,  depois coloquei do lado de fora à espera do carro de coleta. Lavei a desilusão e deixe a sujeira descer pelo ralo. Ai, que alívio! Espanei as teias da raiva até desfazê-las. Apesar da dificuldade em removê-las, por estarem em lugares de difícil acesso, consegui pôr fim até àquelas mais escondidas. Olhei para a solidão e senti ímpetos de dissolvê-la em ácido. Cúmplice,  me sorriu. Achei conveniente desistir pois ela havia sido companheira inseparável durante tantos anos e sempre esteve encarregada de me entreter. Muitas vezes, foi engraçada e me fez rir. Tagarela, conversava sem parar me levando  a reflexões e análises proveitosas. Inclusive, me inspirou, me ajudou a sonhar, a ser criativa, a me sentir rainha de mim. Por isso, preferi conviver com ela para poder desfrutar de minha própria companhia e aguardar, preenchida de mim mesma, por outro afeto que possa compor comigo canções em louvor à vida. Tudo com amor de verdade.

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