sábado, 4 de junho de 2011




                                                      TRAVESSIA




          O sofrimento da dor que foi um dia manda lembranças quando menos espero; parece não querer me abandonar de jeito nenhum. Enfrento-o, encarando-o corajosamente, olho no olho, sem medos nem reservas. Mas, insistente como é, volta sem receios, considerando-se um hóspede familiar. Não vejo nele olhos de ressaca; em mim, sim. Os meus estão exaustos, enregelados, por navegarem em versos românticos, cheios de saudades, num mar sem ondas.
Até quando?
         Uma orquestra de sentimentos, executando sinfonias melancólicas, tenta me confundir. Ensaia peças recorrentes, desgastadas, consumindo silêncio por silêncio, alegria por alegria. A cada dia um pouco de mim se dilui na cachoeira escorregadia em meu rosto. As gotas de vida não choradas esperam o próximo deságue. Até quando?
        A solidão, coautora nesse palco iluminado, escreve comigo peças teatrais poéticas, desarmônicas, para falar de amor. De amor? Como é possível conjugar desarmonia com um sentimento - como dizem - tão encantador? Ah, o amor!... fascínio, mistério, magia... encontro, perspectiva, vida...vírgulas e pontos finais. E o amor continua sendo "um contentamento descontente" e "dor que desatina sem doer."Até quando?
        Olho-me curiosamente, com olhos de assombro; analiso cada pedaço de emoção nua que cantarola em versos poético de canções que nunca compus. Inteiro-me. Integro-me. Totalmente sou e estou. Refeita, até.
         Enxergo além do horizonte, viajando o olhar sobre um céu translúcido, azulado de estrelas. Sorriso "monalísico", maroto, à mercê da inocência de uma tal felicidade. Do coração, sensações melífluas escorregam adocicadas acariciando o dorso da minha alma. Sinto-me arvorear num balé divino, inquieta e inconformada, apaixonada também, sabendo de emoções inusitadas, jamais experimentadas. É chegado o momento. Canto na madrugada em busca de novas trilhas, sob um sol inclemente de possibilidades a me iluminar. Eis que, dos escombros do meu coraçao, surge uma flor. Agora... até sempre!!


        

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