sábado, 2 de julho de 2011


                                 REFAZENDO CAMINHOS


    Decidi me despedir, tenho que ir. É cedo!?, é tarde!?, não, é hora, vou-me embora, agora. Mas, por que tanta pressa?, interrogo-me indiscreta, sem nada entender. Ah, bobagem, me convenço: existem coisas sem explicação, ou a a gente entende ou não, e pronto.
    Sigo. Passos inseguros se entendem, se desentendem e voltam a se entender na caminhada pela estrada enigmática, deserta. Por cima de um muro, acácias curiosas me espionam, observam-me, se entreolham questionadoras: "para onde irá?". Silenciosamente, respondo: nem eu mesma sei. Sei, apenas, que sigo, que vou. Vou sozinha, sem rumo, sem norte, sem bagagem e com vontade de ficar. O caminho me levará. Vou-me levando, de leve, com preguiça, mas vou.
    Um vento cúmplice, galanteador, me beija o rosto, me enche de gosto, me entusiasma e diz para eu seguir. De certo mesmo carrego horizontes e um sol brilhante, gigante, e me inundar por dentro. Diante de mim, descortina-se um rio, de medo, de incertezas, de solidão, de sem palavras para me acudir. Será somente um rio? Rio-me, e, rindo-me, deságuo no mar. Diluo-me nele, navego-o gota a gota, sem pressa. Devagarinho vagueio e me sinto bravia, desbravando um mar de possibilidades, de coisas desconhecidas, inusitadas, instigantes caminhos a percorrer. Arrepios de prazer e de sobressalto me tomam, me acariciam, me dão calafrios, me adormecem e acordam sonhos desejáveis. Uma música suave encanta minha emoção, enfeitando a paisagem do meu ser. E eu canto, danço, brinco e adormeço sentindo-me mais bonita, mais forte e feliz. Tênue, leve. De uma leveza com peso de sutileza delicada. Esvoaçante e evanescente. Tão leve que nem o vento pode carregar mas carregada de paixão, de alegria, de satisfação.
     E mesmo assim, e assim mesmo, sem fugas, estou de volta para o meu aconchego. Trago comigo incertezas, caminhos refeitos e batalhas a vencer. Não há saudade nem ilusões. Mas há muito o que aprender e ofertar. Há, ainda, lembranças agradáveis e a certeza de que, enfim, tive a coragem de partir e a beleza de voltar para uma nova temporada de vida.

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